15 de abril de 2009

Como é bom devanear

Devaneios são tão bons, né? Não estou falando de sonhar, imaginar o que queremos que aconteça. Falo de devanear mesmo. Falo de ver uma janela fechada e imaginar o que está acontecendo por trás das cortinas. Ver uma pessoa na rua e viajar, pensando sobre como deve ser a sua vida. Foi assim que fiz minha crônica pra Exceção.

Existe um tiozinho que sempre me provocou essa reação. Quando eu ainda trabalhava na Folha, sempre que descia as escadas do prédio no meio da tarde ele estava lá, sentadinho nos primeiros degraus. Do lado dele, sem companheiro inseparável: um cachorro que latia para todos que parecessem ameaçar seu dono.

Sempre fiquei imaginando quem seria ele, de onde ele vinha, pra onde ele ia quando saía mancando dali. E foi assim que construí meu texto. Já encontrei ele diversas vezes na rua e tenho uma vaga idéia de onde mora. Sei que ele é manco e que tem uma postura invejável. Já foi o suficiente para minha crônica. Devaneando sobre quem seria ele o texto fluiu de uma maneira tão fácil...

Acontece que por pouco minha fantasia não foi desfeita. O texto estava escrito na semana passada, mas ainda falava a revisão final. De repente, conversando com meu namorado sobre a crônica, ele se lembrou que o pai dele conhecia o tal tiozinho e na hora pediu que ele me contasse quem ele era. Uma exclamação saltou na hora de minha boca:

- NÃO! Não me conta! Não quero saber até eu ter entregue a crônica!
(As aspas não são exagero. Foi um grito mesmo)

Todos riram e ficaram meio sem entender nada. Como uma repórter não queria saber a história da vida do seu personagem? Mas era isso que eu queria. Não queria contar a vida do homem. Queria – e acredito que consegui – apenas devanear para mostrar qual é a imagem que ele me passa, e não quem ele realmente é. Bendita seja a crônica, que permite esse tipo de viagem.

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