23 de agosto de 2010

Revista piauí: para quem gosta de ler

Edição de agosto, número 47
Assim mesmo, com letra minúscula, se chama uma das maiores revistas criadas no século XXI: piauí. A publicação é quase um paradoxo do que dizem ser a prerrogativa do nosso tempo, e do jornalismo, a rapidez, velocidade, simplicidade e objetividade. A piauí é uma revista pra quem gosta de ler. Em dois sentidos: em relação à quantidade e qualidade.

Numa área de 26,5 cm por 34,8 cm, o impresso traz reportagens de até seis páginas com cerca de 24 mil caracteres, chegando a 35 mil, num cálculo rápido que fiz. A título de comparação, os impressos do Curso de Comunicação da Unisc, o jornal Unicom e a revista Exceção têm no máximo 7 mil caracteres. Para tanto, o papel da piauí é especial, do tipo pólen, foi desenvolvido para tornar a leitura mais confortável, sendo a única revista no Brasil a utilizá-lo.

Quanto à qualidade, não existe igual, a meu ver. Desde a pauta, que pode ser a guerra civil na Sicília (edição 43), quanto o funcionamento e o cotidiano do Supremo Tribunal Federal (47) ou como é a profissão ex-presidente (46), e até mesmo quanto vale ser sede da Copa do Mundo (44). Sem conta o primor da escrita. O encaixe das palavras e a maneira de narrar que prendem a atenção até mesmo quando o tema não atrai. Algo que só pode ser classificado como jornalismo diversional ou literário, ou, ainda, "jornalismo narrativo", como João Moreira Salles, o idealizador da piauí, disse em palestra do 22º SET Universitário da PUC, a qual tive o prazer de assistir.

A prova de que eu vi João Moreira Salles
Junto aos textos longos e bem escritos, fotografias grandes, peculiares, singulares. Tão importantes quanto o conteúdo. Não são muitas, mas o suficiente para ilustrar – e complementar - o texto. A disposição dos elementos é simples. Uma foto de abertura, um título em letras garrafais, uma linha de apoio seguida pelo nome do repórter e o texto. A colunagem não é fixa. Não há subtítulos. Apenas capitulares que reaparecem em meio ao texto quando o assunto muda ou a reportagem merece um momento de respiração.

Quase que me esqueci das ilustrações. Elas aparecem o tempo todo ao longo das cerca de 70 páginas, pra mais ou para menos, não há regra quanto a isso. Começando pela capa, que traz um desenho que pode ou não ter a ver com alguma matéria, mas que, por si só, já diz muito e convida a abrir a revista. Nas páginas internas, as ilustrações aparecem esparsadamente, quando convém. E também nos quadrinhos...

Eu não queria me estender, mas me empolguei. Como sempre acontece quando falo do que gosto. Ao falar disso, deve ter ficado explícito duas coisas das quais gosto: ler boas reportagens design gráfico. Essa sou eu. Prazer, Vanessa Kannenberg. Repórter e diagramadora da revista Exceção 2010.



Dois vídeos que ilustram a irreverência da piauí:




3 comentários:

Pedro Piccoli Garcia disse...

Bela apresentação da Piauí, Vahn. De fato, como eu disse no comentário referente ao post da Emilin, a leitura dessa revista gera prazer, coisa que o jornalismo diário não consegue fazer - e provavelmente, nem queira. Por isso, e muitas outras razões, ela é tão especial.

Willian disse...

Hoje a Piauí é, talvez, o que tenhamos de mais próximo da The New Yorker.

Como diz o Pedro, é uma revista que gera prazer, algo que parece proibido no jornalismo "convencional".

Henrique disse...

Sem falar que eles fazem um trabalho gráfico diferenciado. Não tiram o leitor pra burro, nem no texto e muito menos nas imagens. É uma fonte de inspiração grande pro novo projeto gráfico da Exceção.