Há quem encare com maus
olhos as famílias desalojadas, os negros e, claro, os mendigos
Lembro-me de ter lido algumas das reportagens literárias da série
‘A vida que ninguém vê’, da escritora Eliane Brum, nas edições de sábado da
Zero Hora, jornal o qual a editora trabalhou durante 11 anos. Eliane é
extremamente sensível e o que ela revela nesta obra nada mais é do que a
verdadeira realidade de algumas almas esquecidas ou, muitas vezes, nem vistas
por nós.
O livro me fez ter uma visão totalmente diferente tanto na história do jornalismo, como pessoal. Imaginei como cada uma destas histórias, diria épicas, passam por nós no dia a dia e não percebemos. Estamos ocupados demais com outras histórias e atividades. Acredito que a autora, a partir dessas histórias com pessoas simples em situações corriqueiras, inovou o jornalismo brasileiro.
No livro, Eliane procura contar
histórias de vidas diferentes dentro de uma mesma sociedade. Pessoas simples,
como o personagem Adail; o carregador de malas do aeroporto que nunca havia
voado, mas que a partir da publicação na Zero Hora e, também, com a ajuda da
TAM viagens, foi possível realizar seu sonho. Na coragem de Camila. Na fibra de
David Dubin. Do Geppe Coppini, o mendigo de Anta Gorda que nunca pediu nada
para as pessoas que por lá circulavam.
Outro exemplo é o texto ‘História de
um Olhar’, no qual a metáfora dos olhos e do olhar permeia a narração da vida
de Israel, um jovem portador de deficiência mental que era enjeitado numa pequena
cidade até passar a frequentar a escola, cursando a segunda série do ensino
fundamental. E a do Chorador, representado por um senhor que costumava ir a
todos os velórios da cidade para desdenhar sua aflição e tristeza mesmo que não
conhecesse o defunto. Mostra ter solidariedade, uma vez que todos querem ter
reconhecimento em vida e não apenas em morte.
As 23 histórias voltam-se para o
anonimato presente nas ruas, contudo merecedoras de uma história que teria de
ser relatada. Há quem encare com maus olhos as famílias desalojadas, negros, os
que usam vestimentas rasgadas, deficientes físicos e mentais, garis, além
daqueles que encontram suprimento de vida no que foi jogado fora. Os
protagonistas não são famosos, mas, sim, simples cidadãos que transformam e chocam
o mundo com pequenas ações revolucionárias.
O livro me fez ter uma visão totalmente diferente tanto na história do jornalismo, como pessoal. Imaginei como cada uma destas histórias, diria épicas, passam por nós no dia a dia e não percebemos. Estamos ocupados demais com outras histórias e atividades. Acredito que a autora, a partir dessas histórias com pessoas simples em situações corriqueiras, inovou o jornalismo brasileiro.
A Vida que Ninguém Vê é uma obra que
relata a vida que todos têm conhecimento e que, no fundo, ninguém quer admitir
que exista. Viajei tanto no livro que quando cheguei à última página, 200, nem
me dei conta. Uma reedição de valores e ideias que me fez ver as vidas que
antes apenas imaginava como seriam através dos olhos de cada um. O livro foi
vencedor, melhor livro de reportagem, do Prêmio Jabiti em 2007.
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