18 de junho de 2012

Fora da redação


Revendo a resenha de "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", de Fernando Morais, me dei conta de algo que não havia percebido no início: um nicho de mercado fora da redação de jornais, revistas, televisão... que, da mesma forma, exige apuração, faro, bom senso, estética. Digo isso porque se aproxima a data das bancas de projeto experimental em jornalismo e ouvi falar, pelos corredores, que haverá um projeto que trata de livro-reportagem. Confesso que fiquei muito curiosa e instigada a saber mais dos nossos colegas, pois em quatro anos de curso só soube de uma outra experiência com esta proposta. A colega Maiara H., quem sabe, pode nos contar um pouco!

Aproveito para contar um pouco mais do autor, que abandonou a rotina das redações ainda na década de 70. De lá para cá, dedicou-se aos livros. Autor de Olga; Chatô – o rei do Brasil; Corações Sujos; A ilha e Cem Quilos de Ouro, todos publicados pela Companhia das Letras, entre outras publicações, o jornalista e escritor concebeu a ideia de contar a história dos agentes de inteligência cubanos infiltrados em organizações anticastristas da Flórida em setembro de 1998, quando ouviu no rádio a notícia da prisão de 10 soldados pelo FBI. Por anos, tentou, em vão, romper a barreira do silêncio em torno da trama.

O livro só deu os primeiros passos em fevereiro de 2005, quando viajou para Cuba para participar da Bienal do Livro de Havana. Na véspera da viagem de volta ao Brasil, recebeu do presidente da Assembleia Nacional, Ricardo Alarcón, o comunicado de que lhe seriam liberados os documentos dos serviços de inteligência da Ilha sobre a rede que Cuba infiltrara no coração de organizações de extrema direita da Flórida. Mas as pesquisas só começaram a andar mesmo a partir de 2008. De lá até a publicação do livro, em 2011, foram cerca de 20 viagens a Havana, Miami e Nova York, para ouvir todos os lados da história. Entrevistou, inclusive, mercenários estrangeiros que haviam sido presos depois de colocar bombas em hotéis e restaurantes turísticos de Cuba e que tinham sido condenados à morte. Nos Estados Unidos foi mais difícil. Só conseguiu declarações em off porque os agentes do FBI são proibidos de dar declarações públicas. O tema era tratado como segredo de Estado.

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