16 de setembro de 2011

Como era verde o Brasil de Justino Martins

Se, de um lado, jornalistas como Joel Silveira conquistaram, por mérito e senso de oportunidade, seu lugar nos anais da profissão (ao menos por estes lados), com outros a memória parece sofrer de alzeimer.

Refiro-me pontualmente ao gaúcho de Cruz Alta Justino Martins (foto abaixo), cunhado de Erico Verissimo,"descoberto", ao lado de Joel Silveira, por Samuel Wainer quando este sucedeu a Azevedo Amaral no comando da Diretrizes, mas que transitou, também, pela Revista do Globo e Manchete, para ficarmos em três.


Como Justino Martins chamou atenção de Samuel Wainer?

Ao mandar, para o então jovem diretor de Diretrizes, um envelope com uma reportagem dentro, cujo título - "Como era verde o Brasil" - era franca e ironicamente inspirado em um romance famoso à época, de Richard Llewellyn.

"O autor, numa linguagem típica de jornalista da província, pedia-me cerimoniosamente que me desse o trabalho de ler o que escrevera", comentou Wainer anos mais tarde em seu "Minha razão de viver".

Wainer não apenas leu como se apaixonou pelo texto do rapaz: de forma irônica, e a partir de relatório fornecido pela polícia gaúcha, Justino Martins escrevera uma reportagem sobre o integralismo de Plínio Salgado e sua ramificações no Sul do Brasil nos primeiros anos do século 20, que o projetaria em nível nacional e que renderia muitos outros textos dessa natureza.

Reproduzo abaixo, via Issue, de uma edição que 1973 do livro "Reportagens que Abalaram o Brasil", (BLOCH, 1973), que comprei na Estande Virtual, e que tem, além do texto de Justino Martins, reportagens de David Nasser, Otto Lara Rezende e outros de mesmo quilate.


Para além do assunto, instigante, e não obstante a linguagem da época, às vezes empolada, a mim chamou atenção no texto a estrutura que Justino Martins se utilizou para escrevê-lo: a partir de uma visita a uma museu integralista, por "uma gentileza do ilustre chefe de polícia", o repórter chega a um "pequeno e antigo" relatório que guiará seus passos dali para a frente.

Em primeira pessoa, diga-se, e carregado de alfinetadas as mais diversas.

E por este viés, como em um flashback longo e minuciosamente descrito, passa a descrever o nascimento, apogeu e queda do integralismo, na verdade uma imitação tosca do nazismo/fascismo que poucos lembram de ter existido, mas que, por um bom tempo, preocupou um monte de gente por estes lados também.

Leiam o texto. É reportagem de revista de primeira qualidade. Vale a pena.

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