20 de novembro de 2014

Os 10 grandes jornalistas literário dos últimos tempos



Fuçando neste incrível mundo que é a Internet, encontrei o blog Jornalismo Literário. Através de entrevistas, reportagens, vídeos, livros e resenhas e muitas outras coisas, a equipe do blog quer servir de fonte de informação para o interessados pelo tema, além de, claro, mostrar como o jornalismo literário pode ser uma alternativa ao jornalismo hard news. Em resumo: o blog é bem legal e vale a pena passar lá pra dar uma conferida.
Mas não estou aqui para simplesmente falar do blog.

Quero compartilhar com vocês algo que achei muito interessante lá.

O site postou uma lista organizada pelo Prof. Dr. Silvio Demétrio durante uma oficina de Jornalismo Literário, onde constam os 10 maiores jornalistas literários do mundo – na opinião do professor, obviamente.  A lista, publicada no blog em janeiro deste ano, está abaixo pra você dar uma conferida. E aí, concorda com os nomes apresentados? Quem você acrescentaria? Qual tal elaborar uma lista só com jornalistas brasileiros?

Aguardo comentários, hein?! :)

TOM WOLFE

Tom Wolfe logo cedo manifestou sua inclinação para o jornalismo ao escrever sozinho uma  biografia de Napoleão Bonaparte com apenas 8  anos de idade. Sua carreira no jornalismo começa  em 1957. Enquanto escrevia sua tese de doutorado na Universidade de Yale, Wolfe foi contratado  como repórter do Springfield Union, na cidade de  Springfield, Masschussets. Em1959 Wolfe já está  trabalhando como repórter do Washington Post. Vai para Nova York em 1962 para trabalhar no  New York Herald Tribune. Ao cobrir como free  lancer uma corrida de automóveis em pista de  terra no interior dos EUA para a revista Squire,  Wolfe passou uma noite inteira datilografando em  fluxo contínuo suas impressões da pista de corrida.  Enviou o material bruto para o editor Byron  Dobell, que simplesmente publicou as anotações de  Wolfe na íntegra. Foi a entrada de Wolfe para o  estrelato como dândi do que mais tarde ele mesmo  iria batizar de New Journalism. A seguir Wolfe vai publicar The Eletric Coll-Aid Acid Test – uma reportagem de fôlego profundo sobre o escritor Ken Kesey e o grupo de artistas performáticos que ficou conhecido como os Merry Pranksters. Em 1974 organiza em parceria com Edward Warren Johnson a coletânea de narrativas de não-ficção “The New Journalism” – uma grande amostra de textos de vários jornalistas que tinham em comum um estilo que fundia reportagem jornalística com técnicas de narração literárias.


TRUMAN CAPOTE

Famoso e freqüentador das altas rodas da sociedade nova-iorquina, Truman Capote é quem inaugurou o New Journalism com  A Sangue Frio (In Cold Blood). Prodígio e precoce, Capote escrevia  disciplinadamente por no mínimo três horas por dia desde os 11  anos de idade. Outra dado peculiar sobre sua personalidade era a  capacidade aguçada de memorizar diálogos. Ingressou muito cedo  no jornalismo. Com apenas 17 anos Capote já publicava suas  matérias na Harper’s Bazaar. Sua fama vem com a ficção Breakfast  at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo), que mais tarde será adaptado  para o cinema impulsionando a fama de seu autor. Numa manhã de  novembro de 1959 Capote se depara com uma nota sobre o  assassinato de uma família inteira no interior do Kansas. Ao se  deslocar para as paisagens desoladas das plantações do Kansas,  Capote vai produzir durante os próximos 5 anos um trabalho  jornalístico exaustivo na investigação da chacina. O resultado é In  Cold Blood – livro-reportagem publicado em quatro partes pela  New Yorker e que vai dar origem ao estilo da prosa de não-ficção  mais tarde batizada por Tom Wolfe de New Journalism.


HUNTER THOMPSON


De longe a figura mais instigante, irreverente e encantadora de toda a  aventura do New Journalism. Hunter Thompson foi a própria  contracultura traduzida numa forma de escrita absolutamente livre  no jornalismo. Thompson foi o criador do chamado Gonzo Journalism  – um estilo de jornalismo que se constitui por negar qualquer forma  pré-definida do que possa vir a ser considerado como jornalismo. O  Gonzo Journalism é a subversão total das convenções jornalíticas. O  repórter tem liberdade absoluta de se incluir no próprio relato e  também de abrir digressões labirínticas em qualquer direção. Tudo  isto é possível desde que se tenha o gênio de Hunter Thompson para  encontrar numa corrida de cavalos no Kentucky material suficiente  para compor um retrato da decadência da sociedade do sul dos EUA. Depois desta primeira reportagem, a revista Rolling Stone o contratou  para uma série de reportagens sobre gangues de motoqueiros. A  experiência produziu duas coisas, em primeiro lugar a coletânea  dessas reportagens deu origem ao livro “Hell”s Angels – Uma Estranha e Terrível Saga” – no qual Thompson escreve num estilo típico do New Journalism. Em segundo lugar a reportagem resultou numa série de hematomas e machucados decorrentes da surra que Thompson levou quando alguns integrantes da gangue começaram a discordar da publicidade que as matérias estavam projetando sobre os motoqueiros por todo o país. Em seguida Thompson vai lançar Fear na Loathing in Las Vegas (traduzido na edição brasileira por Las Vegas na Cabeça) – seu livro-reportagem mais conhecido e adaptado já na década de 90 para as telas de cinema sob a batuta do diretor Terry Gillian. O pai do Gonzo Journalism suicidou-se em fevereiro de 2005 depois de uma série de cirurgias na região da bacia e que não conseguiram eliminar as fortes dores que vinha enfrentando já há alguns anos. Em função dessa dores Thompson tinha um jeito muito particular de caminhar e que acabou marcando suas últimas aparições em público. Além de Hell’s Angels, Medo e Delírio em Las Vegas, também foram lançados no Brasil seus A Grande Caçada aos Tubarões, Rum Diary – O Diário de um Jornalista Bêbado e Screw Jack.


NORMAN MAILER

Morto recentemente em novembro do ano passado, Mailer foi ganhador por duas vezes do prêmio Pulitzer com reportagens desenvolvidas segundo as convenções do New Journalism. O primeiro Pulitzer veio em 1968 com a publicação de Os Exércitos da Noite (Armies of the Night) – uma grande reportagem desenvolvida em forma de livro que narra a aventura do próprio Mailer na grande passeata que tinha como plano protestar contra a guerra do Vietnan e que aconteceu em outubro daquele ano. Os participantes da Marcha Sobre o Pentágono cercaram de mãos dadas o prédio central do comando do exército americano. Mailer foi um dos personagens que articulou essa marcha juntamente com os integrantes da SDS (Students for a Democratic Society), os Weathermen (grupo de ativistas radicais que irá entrar logo depois para a cladestinidade) e a banda Fugs, que tinha como integrantes os poetas Ed Sanders e Tuli Kupfberg. Nessa grande reportagem literária Mailer cria o “terceiro ponto de vista” que consiste em projetar-se enquanto jornalista como personagem da própria reportagem. Mailer se torna personagem de Mailer ao se referir a si mesmo em terceira pessoa- o efeito é da ordem do estranhamento, logo do distanciamento crítico do leitor decorrente da exposição auto-referente dos artifícios de linguagem por parte do jornalista. O segundo prêmio Pulitzer – premiação máxima da imprensa americana – vem com A Canção do Carrasco ( The Executioner’s Song). Grande parte de seus livros-reportagem foi editada no Brasil. Mailer também foi fundador de um dos ícones do jornalismo alternativo na américa, o Village Voice, publicação voltada para cultura e política editada em Nova York.


STEPHEN CRANE


Jornalista e escritor americano que morreu muito jovem  (28anos) no final do século XIX. Sua morte aconteceu em  decorrência de uma pneumonia que arruinou o estado de  saúde de Crane depois de sua mais famosa experiência como  repórter do New York World – jornal que pertencia ao mega-  empresário da comunicação americana de então, William  Randolf Hearst. Neste trabalho como correspondente da  guerra de Cuba contra o domínio espanhol no final do século  XIX, Stephen Crane se ofereceu para trabalhar na tripulação  de uma embarcação que iria levar armas para os revoltosos  cubanos. Eis que navegando em direção à ilha o Commodore,  embarcação na qual estava Crane, é alvejado por uma  esquadra espanhola. O Commodore naufraga e Crane fica à  deriva durante mais de trinta horas num barco salva-vidas  junto com mais três outros sobreviventes do naufrágio. Do  incidente Crane lavra “The Open Boat”, uma reportagem  publicada pelo jornal no qual era correspondente. Pouco  tempo depois o mesmo relato vai parar numa coletânea de  contos de Crane, fazendo com que grande parte da recepção  de sua matéria a tomasse como um conto. As qualidades da  prosa de Crane são literárias mas voltadas para a representação de um evento real. Esse compromisso é o fundamento principal do jornalismo literário.


SUSAN SONTAG

Nascida em Nova York, assim como Norman Mailer, Susan Sontag também se graduou em Harvard. Sua participação no jornalismo americano dos anos 60 principalmente foi intensa e estrondosa. Tais características a colocaram como musa da nova esquerda militante naquela época e também do movimento feminista. A publicação de “O Que Está Acontecendo em Hanoi” toda sua verve crítica se volta para a denúncia dos abusos e da insanidade da participação americana no conflito do Vietnam. Uma boa compilação de seus escritos de não-ficção está em “Radical Will”, cuja tradução (A Vontade Radical) saiu pela editora Cia das Letras no Brasil. No final da década de 70, depois de viver as dificuldades de um câncer, saiu vitoriosa para escrever A Doença Como Metáfora – ensaio jornalístico no qual Sontag se supera. Uma década depois, já nos anos 80, ela vai escrever aquilo que é será expansão dos mesmos argumentos de seu livro sobre o câncer, agora voltados para a questão da Aids e Suas Metáforas. Sontag aborda em ambos os ensaios a dimensão simbólica das doenças que são vistas de forma estigmatizada pelo senso comum.


GAY TALESE


Outro grande nome gerado pelas experiências estilísticas do New  Journalism é, sem dúvida, o desse ex-aluno do curso de Jornalismo da  Universidade do Alabama. Talese começou ainda na década de 50  como redator na sessão de obituários do New York Times.  Eventualmente conseguia publicar algumas reportagens ainda sem  assiná-las, como a que fez sobre o aniversário da Times Square, ao  entrevistar o responsável pela projeção dos letreiros eletrônicos com  as manchetes dos jornais que existia na famosa praça de Nova York.  Hoje Talese é professor de jornalismo na Universidade do Sul da  Califórnia. Seu artigo mais importante foi o que escreveu sobre Frank  Sinatra, no qual narra as dificuldades em conseguir uma entrevista com  o cantor. A reportagem com o título de Frank Sinatra Está Resfriado é  uma síntese das principais técnicas empregadas pelos novos jornalistas.  Um dos artifícios mais característicos de Talese são as cenas in medias  res, expressão que em latim siginifica “no meio das coisas”. Abre-se  uma narrativa inserindo o leitor diretamente para dentro da ação e, aos  poucos, a narrativa passa a desvelar os significados que tornam possível sua compreensão num nível mais aprofundado.


RAYMOND MUNGO

No estudo realizado por Michael Johnson publicado em 1971, o New Journalism é apontado como um estilo específico de literatura de não-ficção desenvolvido tanto por figuras como Tom Wolfe e Norman Mailer, que são vultos da grande imprensa americana, como também por um tipo de jornalismo que se desenvolveu em meios alternativos, especialmente na imprensa universitária. Michael Johnson assim inclui como vertente do New Journalism o Jornalismo Underground, fenômeno que em alguns traços se aparenta com a efervescência brasileira da imprensa nanica durante os anos da ditadura. Nos EUA a imprensa Underground tinha como foco a luta contra a guerra do Vietnam. Raymond Mungo foi o principal jornalista dessa vertente. Fundador do Underground Press Syndicate e da Liberation News Service, é autor de um dos mais bem construídos retratos dessa geração: Famous Long Ago.



IF. STONE (Isidor Feinstein Stone)

Santo padroeiro de toda a rebeldia que animou o que de melhor se produziu no jornalismo americano do século XX. De origem judaica, Isidore Feinstein Stone é o exemplo do self made man americano. Publicou durante muito tempo seu IF Stone Weekly, jornal que era referência obrigatória no meio de toda cultura de contestação desde os anos que precederam a II Guerra Mundial até as lutas pelos direitos civis dos negros nos anos 60, chegando a se colocar como uma das poucas vozes de dissonância diante do desprezo yuppie pelas causas sociais durante os amargos anos Reagan na década de 80. Stone morreu em 1989 e acumulou um grande número de prêmios internacionais de imprensa. No Brasil foi editada a tradução de O Julgamento de Sócrates e também um de seus artigos numa coletânea de textos publicados pela revista da nova esquerda americana The Nation. Sua voz lendo um de seus artigos sobre a crise de Cuba nos anos 60 pode ser ouvida no álbum Howl, do vanguardista conjunto de cordas Kronos Quartet.


MICHAEL HERR

Quem assistiu a Apocalipse Now de Francis Ford Coppola já teve algum contato com uma narrativa  desse correspondente de guerra da revista Esquire, a cidadela de papel do New Journalism. Quem  escreveu os monólogos narrativos do personagem vivido por Martin Sheen no filme foi Herr. Ele é o  autor do premiado Dispatches, de 1977, no qual narra suas memórias do tempo em que foi  correspondente na guerra do Vietnam. Sua proximidade com o cinema também o levou a escrever em  conjunto com Stanley Kubrik o roteiro de Full Metal Jacket. Evidentemente sua prosa tem como  característica uma forte habilidade em evocar imagens a partir de impressões subjetivas.


* Todas as imagens deste post foram retiradas do Google Imagens :)

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