1 de dezembro de 2011

A Exceção dos encontros

Diariamente, percorro de ônibus o trajeto da Unisc até minha casa. Quem conhece Santa Cruz sabe que para ir da universidade até o bairro Bom Fim, no qual resido, é preciso atravessar toda a cidade. O mais divertido de andar de transporte público diariamente está nas conversas que ouvimos naquele estilo "sem querer, querendo". Foi assim que presenciei, hoje pela manhã, a cena a seguir.

Um homem com cerca de 55 anos embarcou; quase todas as poltronas lotadas; sentou-se na poltrona vazia ao meu lado. Na parada seguinte, cerca de 15 pessoas embarcaram - quase todas tiveram que viajar de pé -, mas uma em especial chamou a atenção do homem ao meu lado. Era um senhor, negro, aparentava ter a mesma idade que aquele que o observava. Ele passou pela roleta e dirigiu-se ao fundo do urbano quando foi atacado pelo homem ao meu lado. Atacado no bom sentido, claro.

- Não lembra de mim - questionou o senhor sorridente ao meu lado. O outro o observou, tentou reconhecê-lo, buscava sua fisionomia em cada canto da memória. Demorou um pouco até soltar um sonoro "Não acredito!!!! Rapaz, tu tá vivo!!!!". Um aperto de mão e os amigos que não se viam desde a década de 90 (soube isso escutando despretenciosamente a conversa) já conversavam como se nunca tivessem perdido o contato.

Entre lembranças de todas as aventuras que passaram juntos e trocas de informações sobre o presente de cada um, a conversa que resumiria uma vida inteira durou pouco mais de 3 minutos. Foi o suficiente para saber que aquele senhor ao meu lado hoje reside no Mato Grosso - possui 6 máquinas de sorvete e veio ao RS apenas para visitar a família, quebrou a mão durante a visita e acabou estendendo o tempo de estadia. Após o rápido encontro, cumprimentaram-se e deram Adeus - o ônibus havia chegado na parada em que desceria o amigo que estava de pé. Um encontro rápido, alguns momentos de nostalgia e a possibilidade de que, novamente, os velhos amigos fiquem por mais 12 ou 13 anos sem se ver. Em nenhum momento eles disseram seus nomes. Talvez a memória tenha falhado para ambos. Mas reencontros são assim, cheios de surpresas e sem hora marcada.

Quis contar essa história aqui no blog porque a Exceção que logo estará em suas mãos é repleta de histórias sobre encontros, reencontros e despedidas. Pode ser um encontro por engano - mas pra lá de certo -, ou então o fim de uma guerra que possibilitou outros tantos encontros por aí. Pode ser um reencontro que nunca aconteceu, deixando apenas uma mancha de violência na história de uma família; ou ainda, um encontro de historias comoventes, de luta, de desprendimento, de superação, com uma família inteira lutando por uma vida entre encontros e despedidas. Essa é a nossa Exceção, uma caixinha de surpresas com histórias nem sempre fáceis de serem digeridas, mas ainda assim, um retrato fiel de alguns encontros pela vida.

Nenhum comentário: